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Você está viajando e, ao deitar-se na cama da hospedagem, suas pernas são presas por cordas e esticadas até que fiquem exatamente do tamanho da cama. Ou, ao contrário, quando maiores, são cortadas. Pense num serrote dolorido, bem dolorido.

Esse é o Leito de Procusto, uma narrativa mitológica que nos permite refletir sobre as razões dos padrões sociais e das violências cometidas para nos conformar a eles.

Hoje, 15 de junho, Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, lembre de Procusto, e reserve o dia para perguntar: quais são os leitos em que essa enorme parcela da sociedade se deita? Quais são as normais sociais discriminadoras dos nossos idosos?

O etarismo ou idadismo só vê o lado negativo do processo de envelhecimento. A partir desse modo de discriminação, cria-se a imagem de que idosos são frágeis, incapazes, improdutivos - e sem valor social. E, tal como no Leito de Procusto, precisam se adaptar à sociedade, e não o contrário. O etarismo, por sua vez, reforça outros modos de agressão a esse grupo populacional. São exemplos a negligência e o abuso financeiro.

Essas tentativas de encaixar as pessoas idosas em tamanhos estreitos de ser e estar no mundo manifestam-se no ambiente doméstico, em rodas de amigos e em espaços institucionais, inclusive em serviços criados para atender e investigar a violação dos direitos dessa população.

Uma das contribuições do Ministério Público foi o lançamento há quatro anos do Protocolo PISC. Queremos qualificar e humanizar o atendimento às pessoas idosas vítimas ou em situação de violência em Santa Catarina e por isso o protocolo contém explicações e um excelente formulário para atender pessoas e orientar o fluxo de rede dos agentes municipais. A proposta é que cada localidade adeque o protocolo à sua realidade para torná-lo mais eficiente.

É uma forma de contribuir para a qualificação dos serviços e para questionar: como ajustar as camas aos modos de ser e existir no mundo, barrando nossos próprios preconceitos?